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Ranking Universidades – Para especialista: ultrapassar melhores universidades é impensável no País

Matéria legal que saiu no Terra, sobre os rankings e as dificuldades de se medir e qualificar os mesmos. Realmente é algo muito subjetivo e complexo.

Especialista: ultrapassar melhores universidades é impensável no País

Por Angela Chagas

Para muitas universidades do mundo, integrar os rankings de melhores instituições de ensino é mais do que o reconhecimento ao trabalho desenvolvido, é uma meta a ser atingida. As americanas, como Harvard e Stanford, e as britânicas Cambridge e Oxford, se intercalam no topo da listas. No Brasil, contudo, a realidade é um pouco diferente. No último levantamento divulgado, o ranking inglês Times High Education, apenas a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aparecem.

Para a doutora em educação e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Helena Sporleder Côrtes, ultrapassar as universidades que estão no topo, como as americanas, é praticamente “impensável”. No entanto, ela afirma que as instituições brasileiras “caminham aceleradamente para melhorar”.

“As nossas grandes universidades públicas e privadas estão se empenhando para chegar perto das melhores do mundo. O aporte de investimento em pesquisa cresceu muito, também temos valorizado a internacionalização, com trabalhos conjuntos com universidades estrangeiras. A tendência é avançar para um patamar de qualidade expressivo, mas ultrapassar as melhores é impensável”, afirma. De acordo com a especialista, o problema está no “atraso histórico do ensino superior no Brasil”.

“Estamos historicamente muito atrás de países europeus e dos Estados Unidos, que criaram suas universidades muito antes. Nossas instituições são do início do século 20. A USP, por exemplo, é de 1934. Na Europa isso começou no século 12”, explica a professora. Segundo ela, o pioneirismo de alguns países tem reflexo na cultura de valorização da educação e também na experiência que as instituições conquistaram ao longo dos anos na pesquisa científica. “Estamos comparando as universidades brasileiras com outras que já ganharam 20, 30 prêmios Nobel”, afirma.

O vice-reitor da Unicamp, Edgar Salvadori De Decca, concorda que o “peso histórico” tem reflexo nos rankings. “Esses levantamentos são muito relativos, porque comparam a Unicamp, que tem 45 anos, com Cambridge, que tem 800 anos”, afirma. Ele também defende que seja considerado o volume de recursos disponíveis. “As universidades americanas e européias têm orçamentos muito vultuosos. Não podemos nos comparar com Harvard, por exemplo, que tem mensalidades altíssimas. A USP e a Unicamp são públicas, e mesmo assim conseguem se destacar”, diz.

O pró-reitor de Pesquisa da USP, Marco Antonio Zago, acredita que, embora seja difícil se igualar a Harvard, a USP se destaca entre as brasileiras justamente pelo investimento em pesquisa. “O que a USP investe nesta área, nenhuma outra universidade do Brasil alcança”, diz o professor. Segundo ele, o orçamento da instituição hoje é de R$ 3,9 bilhões por ano, sendo que R$ 1,4 bilhão é destinado à pesquisa. “Além disso, recebemos cerca de R$ 370 milhões da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e outros R$ 150 milhões do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)”, completa.

Caminho longo
Para alcançar níveis de excelência das universidades americanas e britânicas, é preciso percorrer um longo caminho. Mas de acordo com o vice-reitor de Relações Internacionais da USP, Adnei Melgis de Andrade, a cada ano as instituições brasileiras crescem mais no cenário internacional. “Precisamos levar em conta que temos cerca de 12 mil universidades no mundo e a USP sempre aparece como a melhor de toda a América Latina. Estamos avançando muito, cada ano formamos mais de 2 mil doutores, nenhuma outra universidade brasileira chega a um terço disso. O número de publicações científicas ultrapassa 9 mil anualmente, é um grande diferencial”, afirma.

Resultados subjetivos
Apesar de afirmar que os rankings possuem “critérios subjetivos” e que não levam em conta a totalidade do que é feito nas instituições, o pró-reitor de Pesquisa da USP acredita que eles são “importantes instrumentos para se medir a qualidade”. “Não fazemos propaganda com os rankings. As universidades particulares fazem isso para atrair os alunos e cobrar, mas nós somos uma instituição pública. O que fazemos é divulgar o nosso trabalho, é uma forma de prestar contas para a população de São Paulo que, com os seus impostos, investe na nossa universidade”, diz.

Para Zago, é preciso analisar os critérios de cada classificação. “Os rankings são uma medida, um parâmetro de qualidade. Cada um reforça um aspecto e nenhum pode ser tomado como verdade definitiva, mas quando todos mostram a mesma coisa, temos uma medida. E todos eles dizem que a USP é a melhor universidade brasileira e da América Latina”, afirma.

A professora da PUC também pondera que esses rankings não se configuram como “uma verdade absoluta”. “Todo o ranking deve ser relativizado, porque trata em parte uma realidade. Cada lista de universidades leva em conta determinados critérios, que não podem ser definidos como uma regra geral”, afirma Helena Sporleder Côrtes.

Como os rankings avaliam
Existem diferentes rankings que avaliam as instituições de ensino superior de diversos países. Um dos mais famosos, o ranking do jornal inglês The Times, Times Higher Education (THE), é publicado há oito anos. A última lista foi divulgada na noite de quarta-feira, com a USP na 178º posição e a Unicamp entre o número 276 e 300 (o ranking não disponibiliza a colocação exata a partir da posição 200).

O THE é baseado em 13 indicadores, que vão de investimento à pesquisa, passando por publicações científicas, número de doutorados e de estudantes estrangeiros. No índice de 2010, a USP obteve o 232º lugar.

Já o ranking inglês QS, publicado anualmente desde 2004, traz a lista das 300 melhores universidades considerando o desempenho acadêmico nas áreas de artes e humanidades, ciências naturais, engenharia e tecnologia da informação, ciências sociais e ciências da vida. Dentre outros critérios, a lista é elaborada com base na opinião de acadêmicos de todo o mundo, de empregadores e no número de citações científicas das instituições. Neste ranking, a USP aparece na posição 169 e a Unicamp, em 235.

Na China, o Ranking Acadêmico de Universidades Mundiais (ARWU, na sigla em inglês) faz uma classificação das instituições de ensino superior mais “recomendadas” para se estudar fora do país. Publicada anualmente pela Universidade de Jiao Tong desde 2003, a classificação usa seis indicadores para avaliar as instituições, entre eles o número de professores e alunos que ganharam prêmios Nobel e outros prêmios em ciências e economia, menções a seus pesquisadores e artigos publicados em jornais científicos.

Divulgado em agosto de 2011, a última edição traz a USP entre as 150 melhores do mundo. Na lista também aparecem a Unicamp, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Divulgado em julho, o ranking Webometrics Ranking Web of World Universities avalia a visibilidade na internet das instituições de ensino superior. Na última publicação, a USP foi a instituição brasileira mais bem colocada, conquistando a 43ª posição, e liderando também na América Latina.

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